segunda-feira, 16 de maio de 2011

Professor vidente


Estava no terminal de ônibus outro dia. Sentado no banco esperando a linha do meu transporte coletivo passar, observava vários deles, indo e vindo. Pessoas saindo e entrando rumo ao seu destino. Então pensei que a escola é mais ou menos como aquele terminal... A sala de aula como um ônibus é um espaço coletivo. Alunos estão sempre passando por nós. O professor é o condutor, é ele que dirige, transportando os passageiros até onde devem ir, mas pra onde? Qual será o destino deles? Podemos prever?

Tive um aluno que ao fazer o diagnóstico da turma, selei seu destino - ele com certeza estaria entre os que seriam reprovados. Ainda eram as primeiras avaliações do primeiro bimestre e já havido “visto” o seu futuro. Já ouvi professores me dizerem: “pode contar, daqui mais alguns anos esse garoto vai aparecer nas páginas policiais...”. Segundo a Astrologia os astros influenciam o nosso comportamento, direcionam a nossa vida. Assim, como dizem, tudo estaria escrito nas estrelas. Então me vi perguntando: O professor pode realmente mudar o mundo? Influenciar destinos? 

Jesus mudou a sorte de homens pelos quais ninguém daria nada. Jesus podia ensinar sobre fé por que Ele tinha uma estranha confiança em seus discípulos. Por alguma razão acreditava que a despeito de qualquer rótulo que se impusesse a eles, poderiam ser mais do que os seus “destinos” havia traçado.

Às vezes como educadores temos uma visão limitada do que seria o destino de nossos alunos. Achamos que se passarem de ano, terminarem o ensino médio e não serem delinquentes isso já será um futuro glorioso. Se nos dizem que querem ser médicos e advogados, sorrimos incredulamente. Por que não? Dirão que a culpa é da família. Do ambiente em que vive. Quando Jesus começou a ficar famoso disseram o mesmo. “De onde Ele é mesmo?”, “Pode sair alguma coisa boa de Nazaré?”. Assim, nossas previsões ficam atreladas a determinismos de espaço e circunstâncias.

Aprendi com Cristo que muitas das angústias que experimentamos em sala de aula decorrem da perda de confiança em nossos alunos. Desesperamo-nos porque não acreditamos mais que há jeito para aquele aluno indisciplinado, para aquela aluna com dificuldades de aprendizagem. Aceitar os estereótipos é mais fácil, nos isenta.

Já peguei ônibus errado, já cochilei e parei longe de meu destino, mas fui eu. O ônibus apenas vem e leva. Talvez não consiga levar todos os meus alunos ao ponto certo, mas a decisão sobre isso deve sempre caber a eles. Enquanto isso, estarei fazendo o meu papel, conduzindo com a confiança de que todos terão um destino brilhante, é a minha previsão, o que quero ver.

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